domingo, junho 05, 2005

o problema

Acreditando-se na premissa de que o espaço é ordenado segundo uma determinada lógica que seria dirigida pela sociedade, e a sociedade, por sua vez age influenciada pela configuração espacial, seria possível identificar padrões de organização espacial de supermercados em bairros voltados para uma mesma classe social, uma mesma sociedade? Esta é a pergunta que se deseja responder. Essa sociedade, objeto de estudo da sociologia, antropologia e psicologia por autores como: Michael Solomon, Bernardo Sorj, Mary Douglas & Baron Isherwood e Lars Perner servirão de base para este estudo.
Organização espacial refere-se, neste estudo, ao leiaute dos supermercados. Entende-se por leiaute a “distribuição física de elementos num determinado espaço
[1]”. É a distribuição física de produtos dentro do supermercado que será analisada para responder a questão proposta. Esta distribuição física dos produtos é chamada pelos técnicos de departamentalização[2]. Os produtos estão alocados nos mesmos lugares, ou nos lugares com propriedades espaciais bastante semelhantes em grupos de supermercados cujo público alvo são consumidores pertencentes a uma mesma classe social? Existe um padrão de distribuição física dos produtos? Para este estudo será utilizada a Sintaxe Espacial, uma ferramenta de análise que será descrita a seguir, no capítulo que aborda a metodologia.
Supermercado é definido com “loja de auto-serviço onde em ampla área se expõe à venda grande variedade de mercadorias, particularmente gêneros alimentícios, bebidas, artigos de limpeza doméstica e perfumaria popular
[3]. Auto-serviço caracteriza-se como “sistema em que o próprio consumidor ou usuário se serve (em restaurante, supermercado, posto de gasolina) e paga em caixa ou utiliza mecanismo operado por moeda, ficha, cartão eletrônico, etc[4].
O primeiro supermercado do mundo foi o Piggly Wiggly, inaugurado em 1916 em Menphis, Tennessee, Estados Unidos da América. No Brasil, comemorou-se 50 anos de supermercados, sendo a primeira loja a funcionar com o conceito de auto-serviço a da Cooperativa dos Empregados da Tecelagem Parahyba, em São José dos Campos, São Paulo, em janeiro de 1953.
[5] Em Recife, o primeiro a ser inaugurado foi o Bompreço Casa Amarela em 1966, do Grupo Bompreço, hoje comprado pelo Grupo WallMart.

Serão estudados leiautes dos supermercados
[6] situados na cidade do Recife, no ano de 2003, em número de 11 (número total de supermercados Bompreço existentes na cidade do Recife), pertencentes à rede Bompreço, que serão divididos por grupos de acordo com a classe social a que atendem. A rede bompreço divide os supermercados em três classes sociais: AB, (lojas Boa Viagem, Domingos Ferreira, Espinheiro, Parque Amorim e Shopping Recife) BC (lojas Aflitos, Arruda, Benfica e Casa Amarela) e C (lojas Aeroporto, e Afogados)[7].
Uma loja de supermercado tem como objetivo máximo vender seus produtos aos consumidores. É senso comum entre os especialistas que, para alcançar os objetivos é necessário conhecer o consumidor, seus hábitos, suas necessidades e procurar muitas vezes estar à frente destas necessidades, explorar e perseguir até mesmo aquilo que o consumidor nem tem idéia de que deseja e expor para ele. Os leiautes estão diretamente relacionados à maneira de viver e às necessidades dos consumidores, eles refletem características de uma sociedade. Observa-se, de acordo com inúmeras publicações da ABRAS (Associação Brasileira de Supermercados) a ênfase dada às necessidades dos consumidores. Os novos hábitos de consumo, a inserção de novos produtos, fazem do leiaute algo em constante mutação. Alguns aspectos caracterizam, de maneira geral, a sociedade contemporânea que é parte integrante deste estudo: é comum começar a fazer as compras pelos produtos frescos, comprar desde o tradicional (batatas e vegetais) até certos produtos exóticos (aspargos e carne de javali), é possível e acessível comprar de tudo, de produtos regionais até as mais exóticas especiarias produzidas no mundo, muitos dos produtos comprados são engarrafados, enlatados ou congelados. O gosto por comidas exóticas e o conhecimento sobre vinhos é uma constante neste período, além da preocupação com alimentos orgânicos na busca por alimentos mais saudáveis e seguros. Como é comum tanto para homens quanto para mulheres conciliar a atividade profissional com a administração de um lar, verifica-se o crescimento de uma categoria: a dos alimentos pré-cozidos, no setor de congelados (Randall & Seth 1999). A tônica é economizar tempo utilizando este tipo de alimento, que já representa 50% do total oferecido, segundo Antônio Carlos Ascar, consultor de varejo da ABRAS. O aumento do número de produtos torna mais complexa a administração do leiaute, no entanto, serão analisadas neste estudo as chamadas categorias básicas de produtos definidas pelos técnicos
[8]: mercearia, carnes/aves, hortifrutigranjeiros, frios/laticínios, congelados, refrigerantes, bebidas, padaria, peixaria e promoções. Supermercado é um equipamento que toca a vida das pessoas, estima-se que 2% de nossas vidas passamos no supermercado. As lojas refletem e direcionam mudanças de padrões sociais (Seth & Randall, 1999).
Não serão aqui abordados todos os aspectos inerentes à complexidade do processo de vendas. Serão explorados apenas os conceitos básicos dessa atividade destacados por profissionais atuantes no varejo e fundamentados com a ajuda da bibliografia voltada para a ciência do consumo, com foco no comportamento do consumidor, na tentativa de auxiliar a compreensão da questão que se aborda.
Também não é do escopo desta pesquisa abordar os assuntos relativos aos resultados mercadológicos relacionados aos lucros, é importante reconhecer a importância que esta questão tem para a elaboração do leiaute. Como já foi dito, o objetivo máximo de uma loja de supermercados é o lucro, e neste sentido, o leiaute faz parte da estratégia do negócio. Na medida em que se busca uma disposição tal em que o cliente possa comprar tudo que deseja no menor espaço de tempo possível, mirando o chamado aproveitamento de venda total. Isto acontece quando a disposição dos produtos permite oferecer ao consumidor condições de comprar o máximo que a ele possa ser vendido. Neste ponto nota-se mais uma vez a necessidade de conhecer o consumidor para elaboração do leiaute e que o leiaute caracteriza o consumidor. Este é ponto chave desta pesquisa, verificar se existe um padrão de configuração espacial entre supermercados voltados para uma mesma classe social, um mesmo consumidor.
[1] Definição segundo Novo Aurélio Século XXI: o dicionário da língua portuguesa. 3a edição. 1999. Página 1197.
[2] Fonte: Fernando Guerra. Professor da Universidade Federal de Pernambuco. Dirige a F. Guerra Design Comercial. Arquiteto especialista em varejo trabalha há anos junto aos supermercados Bompreço.
[3] Definição segundo Novo Aurélio Século XXI: o dicionário da língua portuguesa. 3a edição. 1999. Página 1905.
[4] Definição segundo Novo Aurélio Século XXI: o dicionário da língua portuguesa. 3a edição. 1999. Página 237.
[5] Fonte: ABRAS (Associação Brasileira de Supermercados).
[6] Vale salientar que a rede Bompreço possui ainda outros dois tipos de lojas, os hipermercados e os minimercados, que estão fora da área de abrangência desta pesquisa. Estes tipos são separados pela variedade dos produtos oferecidos.
[7] Fonte: F. Guerra Design Comercial.
[8] As categorias foram selecionadas a partir da observância de sua constante citação como pontos chaves para elaboração do leiaute em artigos publicados pela ABRAS (Associação Brasileira de Supermercados) pesquisados a partir do ano de 1975.