terça-feira, junho 14, 2005

3.4 exemplo de aplicação do método

Vários temas relacionados ao varejo têm sido tratados utilizando como ferramenta a Sintaxe Espacial. Um dos estudos que mais colaborou para escolha deste método de análise foi o de Gordon Brown: Design and Value. Nele, o autor faz uma comparação entre dois shopping centers, um que faliu, o Beau Monde, e um de sucesso comercial, o Tamarac Square. Através do estabelecimento e análise de medidas sintáticas ele explica os desempenhos dos dois centros de compras. O estudo mostra, através da comparação dos valores de integração, das isovistas e das linhas axiais, que a configuração espacial pode facilitar ou não o desempenho das vendas. Medidas como acessibilidade e visibilidade são pontos observados com atenção. A comparação é curiosa porque os edifícios situam-se em locais com as mesmas condições de acessibilidade e fluxo de pessoas, há muitas semelhanças entre eles, a diferença básica está na configuração espacial. As análises dos gráficos justificados, mapas convexos, isovistas e valores de integração permitem descrever os edifícios de acordo com suas propriedades sintáticas: o primeiro, possui um maior número de espaços convexos, áreas isoladas, é mais profundo, possui vários níveis, como mostra o gráfico justificado (Fig. 3.6). O segundo não possui áreas isoladas (segregadas), possui menos espaços convexos, menos linhas axiais e é mais raso (Fig 3.7).
Brown conclui estabelecendo propriedades sintáticas desejadas para um empreendimento comercial: espaços integrados e contínuos, minimizar os espaços convexos, gerar poucas e longas linhas axiais, poucos ou nenhum anel, estabelecer conexões diretas entre os níveis e não permitir que propriedades locais dominem as globais. Estima-se que as análises sintáticas possam prever 64% dos movimentos de circulação de pessoas. Uma conclusão mais ampla a que chegou é que a inteligência de um edifício está na sua configuração espacial.
Decisões de leiaute são influenciadas pelo entendimento das questões mercadológicas relativas ao lucro e as questões mercadológicas relativas ao lucro são influenciadas pelo desenho (Brown, 2001). Será que os supermercados a serem estudados utilizam o conhecimento do mercado e da sociedade e geram um mix de produtos que muda de lugar em função de sua lógica de vendas, e essa lógica de vendas varia de acordo com a classe social? É curioso notar, através da literatura pesquisada, que ainda que intuitivamente, especialistas em leiaute tem adotado métodos de percepção do espaço, tentando compreender como as pessoas o usam. Isso fica claro através do seguinte relato: “O importante, portanto, é que você tenha as mercadorias agrupadas por departamentos e distribua os departamentos em sua loja de forma a tê-la inteiramente visitada por seus fregueses. Uma boa forma de saber se isto está acontecendo é fazer pequenas plantas da loja e mandar uma pessoa (qualquer menino executa a tarefa) acompanhar os fregueses desde que entram na loja até a saída, descrevendo seu trajeto com um lápis macio e bem preto. No fim do dia, as partes claras da planta denunciarão áreas pouco visitadas e as partes muito escuras as áreas de muita visitação. Lembre-se de que os riscos são os mesmos da escassez: o acúmulo de pessoas, congestionando uma região, faz cair as vendas.”·
Diversos softwares podem viabilizar a obtenção dos valores de integração, a construção dos gráficos justificados e das isovistas. Dependendo do objeto a ser analisado ou um outro software pode ser mais adequado. Para o caso das questões do varejo, relativas ao edifício, o Depthmap, desenvolvido pelo Laboratório de Realidade Virtual da Universidade de Londres a partir dos estudos sobre isovistas iniciados por Benedikt, parece adequado para tratar as questões que se pretende abordar. Ele permite a criação de isovistas com valores de integração (chamados de gráficos de visibilidade) a partir de um ponto, para o caso, será utilizada a entrada da loja como raiz. A partir daí pode-se perceber, através dos resultados, quais os pontos mais utilizados do espaço, normalmente os mais integrados, quais e como são os campos visuais e quais produtos estão onde.